A invenção da infância

1º sentimento de infância é o da “paparicação” quando as crianças pequenas passam a ocupar um lugar no olhar, na diversão e nas brincadeiras dos adultos (séculos XV e XVI). Tem-se aqui a imagem “engraçadinha” da criança.
“No século XVII, de um infanticídio secretamente admitido passou-se a um respeito cada vez mais exigente pela vida da criança” Em grande parte pela cristianização dos costumes, as crianças começam a ser batizadas e ganham presença cada vez mais central nas representações artísticas.



A alma da criança é reconhecida antes que seu corpo e associada com as novas práticas de higiene, as primeiras vacinas e ao controle da natalidade cada vez mais difundido surge um cuidado com os filhos vivos. Juntamente com isso, família torna-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que ela não era antes. 
A criança sai de seu antigo anonimato, ganhando uma crescente importância no meio familiar, incrementando-se os cuidados cada vez mais exigentes pela preservação de sua vida. Esse sentimento de família fortalece os laços entre mãe e criança e põe em destaque a construção de um novo lugar social da mulher, que será definido pela maternidade. No final do século XVII culmina o processo de algumas mudanças consideráveis, no que se refere às crianças, às famílias e aos costumes. A escola começa a representar o lugar da educação, em detrimento da aprendizagem no convívio direto com os adultos, de quem especialmente as crianças mais abastadas vão sendo paulatinamente separadas. Tem início seu enclausuramento, disciplinarização e vigilância constantes, por meio da escolarização e em decorrência do surgimento de um 2º sentimento vinculado à infância: o de fragilidade e inocência. Em contraposição à infância ignorada, ganha força o conceito da debilidade e da fragilidade da criança. Os costumes vigentes passam a prestigiar o recato do comportamento, o pudor com o próprio corpo, a reserva na linguagem e o controle sobre a convivência, as diversões e até sobre a leitura adequada a crianças e adultos.  O apego à infância deixa de se exprimir pela brincadeira e passa a ser veiculado por meio da preocupação moral. O 1º sentimento de infância nasceu na informalidade do convívio social e familiar. O 2º sentimento de infância surgiu fora da família, entre os eclesiásticos, os homens da lei e o moralistas, preocupados com a racionalidade dos costumes e com a disciplina. Essa nova doutrina moral influenciou fortemente o papel da família e o modelo educacional vigentes até os dias de hoje.Determinou também o deslocamento da vida social do espaço público para o espaço privado. É a partir dessa época que o castigo corporal se generaliza, tornando-se uma característica da nova atitude diante da infância. Concomitantemente, na sociedade, uma concepção autoritária,hierarquizada e absolutista ganha hegemonia. Cabe destacar que essas mudanças nas representações sociais sobre a família e sobre a infância não ocorreram da mesma maneira entre ricos e pobres ou com relação a meninos e meninas.A intimidade da vida privada, em oposição à convivência privilegiada na coletividade, se estabeleceu muito antes e mais marcadamente entre os ricos.Assim como o movimento social de escolarização demorou quase dois séculos para ser destinado também às meninas, qualquer que fosse sua classe social. Desta forma a criança não era detentora de direitos específicos as suas individualidades.  No período Renascentista "nasce" o sentimento da infância, porém este sentimento não era uniforme e homogêneo.  Salienta-se que, na maioria das vezes, o sentimento da infância estava "reservado" às elites, que dispunham dos meios necessários para garantir tratamento diferenciado com saúde, educação e cuidados para com os seus filhos.  A classe pobre não podia gozar deste sentimento, haja vista que necessitava que seus filhos, tão logo conseguissem se mover sozinhos os ajudassem nas tarefas e no trabalho.

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